sábado, 30 de abril de 2011

Memória muscular

A memória muscular talvez seja  (infelizmente) o tipo de memória mais utilizado pelos pianistas (alunos, principalmente).

Mas então porque digo "infelizmente" ?
Porque ela nem sempre funciona !

O objectivo de um pianista é tocar as notas certas com o som certo e para isso utilizamos muito do nosso tempo de estudo a treinar o corpo (dedos, mãos e braços, principalmente) para atingir esse objectivo.

O problema é que quando utilizamos o nosso corpo da mesma maneira que treinámos mas numa sala diferente ou num instrumento diferente, o resultado final É BASTANTE DIFERENTE do habitual e pode não resultar de todo.

Assim, não devemos treinar apenas o corpo para um determinado objectivo, mas sim "usar o ouvido" de maneira a que este possa provocar as mudanças e adaptações necessárias no corpo para que o resultado sonoro final seja o que sempre foi.

Para que tal seja conseguido, deixo algumas sugestões de memorização, nomeadamente para aquelas passagens, que por uma razão ou por outra, são mais complicadas de memorizar:

  1. Passagens contrapontísticas: Cantem uma das vozes enquanto tocam as outras normalmente. Isto pode ser feito em qualquer tempo (lento, moderado, a tempo, etc.). O importante é fazer isto em TODAS as vozes.
  2. Passagens semelhantes: algumas passagens têm apenas pequenas diferenças e isto torna a memorização mais difícil, nomeadamente saber que passagem é para tocar num dado momento. Uma solução é atribuir um número a cada passagem (pela ordem em que aparecem) e tocá-las todas de seguida umas quantas vezes, dizendo em voz alta o número correspondente à passagem .Depois, escolher um número aleatoriamente e tocar a passagem correspondente, repetindo até que se consiga tocar qualquer uma de imediato, sem hesitações 
  3. Passagens com grandes escalas: escalas intermináveis (com pouco apoio tonal) sem um padrão lógico deverão ser aprendidas de trás para a frente. Dividir a escala em pequenas partes que tenham alguma lógica, ou que apenas sigam a mesma direcção (subir ou descer), ou que contenham um arpejo, etc. O importante é dividir em unidades. Memorizar estas unidades é mais fácil do que memorizar nota por nota.
  4. Passagens com harmonias complexas: Depender apenas da memória muscular numa passagem deste tipo não vai resultar de certeza. A melhor maneira de memorizar harmonias complexas (para além do pensamento tonal, se for possível) é cantando. Tocar o acorde e cantar cada nota que o constitui (de baixo para cima), Depois, tocar apenas o Baixo e cantar o resto do acorde.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Glissando ou não glissando, eis a questão.

Na (vasta) literatura para piano há algumas obras que contém passagens polémicas. Principalmente no que diz respeito à sua execução e saber qual a verdadeira intenção do compositor.

Isto deve-se a muitos factores, mas o que é certo é que as opiniões divergem.

Um desses casos é o 3º Andamento (Rondo. Allegretto moderato - Prestissimo) da Sonata em Dó maior, Op.53 ("Waldstein") de L. van Beethoven.



Neste andamento, já na secção Prestíssimo quando chegamos ao compasso 465 (até ao cp.476) vemos isto:
(clicar para aumentar)
 
Esta edição moderna é completamente fiel ao manuscrito de Beethoven, como podemos ver aqui:

(clicar para aumentar)


Como executar então esta passagem de oitavas? há duas grandes hipóteses:
  1. Como glissandi
  2. Articulando cada nota.

Dentro da 2ª hipótese também há duas variantes:
  • a) a mão direita executa as escalas descendentes em oitavas articulando cada uma e a mão esquerda executa escalas ascendentes de oitavas articulando cada uma delas também.
  • b) ambas as mãos participam nas escalas descendentes e ascendentes. A mão direita toca a nota mais aguda de cada oitava e a esquerda a mais grave. Ao fim ao cabo estão a tocar escalas "normais" estando as mãos à distância de oitava entre si.
É de referir que dentro da variante b) ainda há algumas diferenças, nomeadamente no que diz respeito ao facto de ambas as mãos tocarem as notas todas da escala (o que é muito complicado) ou sacrificarem algumas para poderem mudar de posição. Também por vezes as escalas ascendentes são tocadas apenas pela mão esquerda sem oitavas, ou seja, apenas com uma nota de cada vez.

Bem...espero que ainda estejam a acompanhar a minha explicação...

Estas duas grandes vertentes (hipóteses 1 e 2) derivam das diferentes interpretações que os pianistas fazem da partitura. Vejamos alguns factos que resultam apenas da (minha) observação e que podem ajudar numa decisão:
  1. Dinâmica indicada: pp (pianíssimo)
  2. Dedilhação indicada:  1-5 para a mão direita e 5-1 para a mão esquerda (muitos - como András Schiff - dizem que isto é claramente a indicação de glissando. Se assim fosse, porque não escreveria Beethoven gliss. ?)
  3. Indicação de pedal: SEM pedal. O sinal para levantar o pedal (um círculo no manuscrito) está claramente presente no início do referido compasso (cp.465). Beethoven indica a utilização do pedal em toda esta Sonata (mais uma polémica...).
  4. Durante as escalas ascendentes existem acordes em simultâneo. Isto torna quase impossível tocar de outra forma que não seja a esquerda ficar com as oitavas e a direita com os acordes.
  5. Existência de ligaduras por cima das notas (legato)
  6. Beethoven no final do manuscrito explica claramente como executar os (difíceis) trilos que aparecem depois desta passagem, onde a melodia e o trilo devem ser executados em simultâneo. Dá inclusivamente duas hipóteses de execução. Já para a passagem que estou a analisar não há referência de espécie alguma. Pelos vistos, para Beethoven, esta passagem não oferecia dúvidas absolutamente nenhumas.
  7. No compasso 475, quando as duas vozes fazem escalas (sem oitavas) em movimento contrário, existe a indicação cresc. que culmina na dinâmica f (forte). Isto parece-me que também terá a sua importância na decisão a tomar. Porque razão as oitavas desaparecem nesta passagem de transição?


Em relação à prática (interpretações de pianistas), os chamados "grandes pianistas" que gravaram esta Sonata, dividem-se também em grupos. Gostaria de dividi-los APENAS entre os que pertencem à hipótese 1 ou 2, isto é, entre os que fazem Glissando e os que articulam as notas todas de uma forma (a) ou de outra (b, com as suas diferenças).

Assim, temos:
HIPÓTESE 1 (glissando)
- Emil Gilels
- Rudolf Serkin (este até tem uma história curiosa sobre esta passagem)
- Artur Schnabel
- Walter Gieseking
- András Schiff (que diz claramente em masterclasses que são claramente glissandos devido à marcação da dedilhação 5-1)

Exemplo: (Emil Gilels)


HIPÓTESE 2 (articulando)
- Vladimir Horowitz (este pode articular QUALQUER passagem em oitavas !)
- Sviatoslav Richter
- Gyorgy Cziffra (outro que pode articular TUDO o que quiser !)
- Wilhelm Kempff
- Daniel Barenboim (variante b)
- Josef Hofmann
- Eugene d'Albert

Exemplo: (Horowitz)




E vocês? o que dizem desta passagem?
Os que tocam, como fazem? Os que a tocaram, como fizeram?
Mesmo os que conhecem apenas a obra, o que acham?
E os que nunca ouviram falar desta obra, nem pensaram no assunto, qual a vossa opinião?

Deixem contributos. Obrigado.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Totentanz



A Totentanz, S.126 de F. Liszt é uma obra impressionante.
Baseada no cantochão Dies Irae, foi terminada em 1849, embora a versão mais comummente tocada seja a última (3ª) revisão de 1859.
Originalmente composta para piano e orquestra, existem também versões do próprio Liszt para piano solo e para 2 pianos.

Primeiramente é a versão para piano solo que vos deixo. E tocada por Valentina Lisitsa que para mim é uma das maiores virtuosas do piano da actualidade. A sua facilidade é impressionante. Todos os movimentos são naturais. Todos fazem sentido. Não deixem de estar atentos a esta pianista.

Liszt - Totentanz S.126 (piano solo) | Valentina Lisitsa, piano

A segunda sugestão que vos deixo tem um interesse histórico e "patriótico". É a versão para piano e orquestra tocada pelo grande Mestre José Vianna da Motta com a Orquestra Sinfónica Portuguesa dirigida por Pedro de Freitas Branco. A gravação é de 1945 e está dividida em 2 vídeos.
Liszt - Totentanz S.126  | J. Vianna da Motta, piano | Orquestra Sinfónica Portuguesa | Pedro de Freitas Branco

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Flauta para quê?

J. S. Bach - Badinerie (último andamento da Suite Orquestral No.2, BWV 1067)
Alexander Romanovsky, piano

terça-feira, 26 de abril de 2011

The Gershwin Piano Quartet

O "The Gershwin Piano Quartet" é um agrupamento interessantíssimo, formado pelos pianistas Mischa Cheung, André Desponds, Benjamin Engeli e Stefan Wirth

O seu som é óptimo e os vídeos são muito criativos e bem realizados. Era bom se tivesse oportunidade de os ver ao vivo...

Sítio oficial AQUI

Canal oficial do Youtube AQUI

Página oficial do Facebook AQUI


O piano é um instrumento lindíssimo de se ver não é? em alguns momentos este vídeo mostra essa qualidade estética (visual) do piano enquanto objecto.


Para quem não concorda e não gosta de ver piano, então..."oiçam" este vídeo de piano mas SEM piano !

segunda-feira, 25 de abril de 2011

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Um jogo sempre útil

É um jogo que avalia a nossa capacidade de detectar a diferença entre dois sons gerados digitalmente.

Temos que dizer se o 2º som está mais alto, mais baixo ou se é igual ao 1º.

No nível "beginner" e "intermediate" é fácil. No "advanced"...nem sempre. Neste último nível, a diferença entre os 2 tons pode ser de apenas 5 cents.

Experimentem AQUI

terça-feira, 19 de abril de 2011

Algum pianista corajoso?

Depois dos exercícios de concentração do artigo anterior, já devem estar mais do que qualificados para executar esta peça.

Algum pianista corajoso, ou mais do que um, já que esta obra é intocável por apenas uma pessoa, avança com uma interpretação desta obra?


É o "Circus Galop" do (genial) pianista Marc-André Hamelin e foi composta para Pianola.


Deixo-vos aqui uma versão MIDI do áudio e com o vídeo do manuscrito da partitura.



Já viram o (mau) aspecto na partitura, agora podem ver como fica impressionante a ser tocada numa Pianola (na realidade é uma versão moderna, um "Disklavier"):

Exercícios de concentração

Estes exercícios deverão ser praticados quando estamos sozinhos num local sossegado e devemos estar sentados, com as costas direitas e num estado da mais completa descontracção.

Deverão ser praticados por 10 minutos e, após algumas semanas de treino, aumentar para 15 minutos.





Exercício 1
A partir de um livro, conta as palavras de um qualquer parágrafo. Conta novamente para confirmar.
Quando se tornar mais fácil, conta as palavras de uma página inteira.
A contagem deve ser feita mentalmente e apenas com os olhos, sem apontar nenhuma palavra com o dedo.

Exercício 2
Contar mentalmente de 100 para 1

Exercício 3
Contar mentalmente de 100 para 1, mas de 3 em 3 números (100, 97, 94, etc.)

Exercício 4
Observa uma peça de fruta (maçã, laranja, banana, etc.) segurando-a nas mãos. Examina-a cuidadosamente de todos os ângulos, mantendo sempre a atenção na fruta. Não permitir que o pensamento divague. Manter-se calmo olhando apenas para a fruta e a sua forma, cheiro, sabor e sensação de toque.

Exercício 5
É o mesmo que o exercício 4, mas sem a fruta propriamente dita, ou seja, imaginando-a apenas de olhos fechados. Pode-se começar por olhar para a fruta durante 2 minutos como no exercício anterior e depois passar para este exercício tentando imaginar uma imagem clara.
Se a imagem mental não for nítida, devemos abrir os olhos, olhar para a fruta uns instantes, fechar os olhos e retomar o exercício.

Exercício 6
Utiliza um pequeno objecto (colher, garfo, copo, etc.) e concentra-te nele. Observa-o a partir de todos os ângulos sem verbalizar, ou seja, sem palavras faladas NEM PENSADAS. Apenas observa o objecto sem pensar nada sobre ele.


Exercício 7
Depois de dominar bem o exercício anterior (6), executar este.
Desenha uma figura geométrica (triângulo, rectângulo, círculo, etc.) com 7 ou 8 centímetros, pinta-a com uma qualquer cor e concentra-te nela. Deverás ver apenas a figura e nada mais. Sem pensamentos colaterais, distracções ou palavras.

Exercício 8
O mesmo que o exercício 7, mas visualizando a figura de olhos fechados

Exercício 9
O mesmo que o exercício 8, mas com os olhos abertos

Exercício 10
Tenta ficar durante 5 minutos sem pensamentos de qualquer espécie.
Este exercício só deve ser tentado depois de os anteriores terem sido dominados.

Isto permitirá impor "silêncio" aos nossos pensamentos. Com o tempo tornar-se-á cada vez mais fácil.

A publicidade pode ser genial. E Bach também

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Cartas de Chopin redescobertas

Seis cartas de Chopin que se pensavam perdidas em 1939 foram descobertas e doadas ao museu Chopin, em Varsóvia.

As cartas, escritas por Chopin aos seus pais e irmãs entre 1845 e 1849, julgavam-se perdidas desde o pós-II Guerra Mundial, mas em 2003 correu a notícia que poderiam estar numa colecção privada.

Foram adquiridas por Marek Keller, um negociante de arte, aos seus antigos proprietários, que desejam manter-se anónimos.

Nas cartas, Chopin descreve situações da vida diária e fala da sua Sonata para Violoncelo e Piano.

A colecção também inclui cartas de Jane Stirling (aluna de Chopin) para Ludwika (irmã de Chopin) e estarão em exposição no museu até dia 25 de Abril.

sábado, 16 de abril de 2011

o "medo de palco"

Existe um infindável número de coisas que se podem fazer de forma a diminuir de alguma forma o "medo de palco". Deixo-vos aqui algumas:

- Ter uma grande segurança nas obras a apresentar em público (isto é fundamental e a base de tudo o resto).
- Controlar a respiração. Contar (mentalmente, claro) 4 segundos ao inspirar, suster a respiração durante 4 segundos e expirar durante mais 4 segundos. Repetir várias vezes.
- Repetir um mantra
- Comer antes de actuar. Nada de pesado, claro, mas não tocar de estômago vazio.
- Fazer exercício. Caminhadas enérgicas são suficientes. Corridas ainda melhor.
- Fazer uma lista das coisas positivas que disseram de nós. Ler a lista mesmo antes de entrar em palco.
- Entrar confiante. Caminhar de uma forma assertiva. Não olhar para o chão.
- Demorar o tempo que for necessário até começarmos a tocar. Não começar antes de nos sentirmos "centrados".
- Tocar para amigos ou conhecidos como preparação. Depois podemos convidar estranhos para o grupo.
- Estudar de vez em quando com distracções várias em simultâneo (TV ligada, pessoas a falar, etc.)
- Actuar o maior número de vezes possível.
- Ter cuidado com a roupa que se usa. Ter em atenção que as luzes de palco aumentam bastante a temperatura.
- Tocar o programa pelo menos uma vez com as roupas de concerto.
- Ensaiar a entrada e os agradecimentos.


Se tudo isto não resultar, há medidas mais drásticas:
- Terapia de grupo
- Terapia individual
- Meditação, Yoga, Tai Chi, etc.
- Hipnose
- Medicamentos Betabloqueadores (como o Inderal) são úteis em algumas pessoas. Não estou a recomendar o seu uso, mas por vezes resulta. É fundamental falar com o médico.

Ranking de escolas de música nos E.U.A.



LugarUniversidade (Escola)Estado
1University of Rochester (Eastman School of Music)NY
2Indiana University-BloomingtonIN
3University of Michigan-Ann ArborMI
4Juilliard SchoolNY
5Curtis Institute of MusicPA
6New England Conservatory of MusicMA
7Northwestern UniversityIL
8Oberlin College ConservatoryOH
9University of CincinnatiCI
10University of Illinois-Urbana-ChampaignIL
11Yale UniversityCT
12Florida State UniversityFL
13Manhattan School of MusicNY
14University of Southern CaliforniaCA
15Johns Hopkins University (Peabody)MD
16University of North TexasTX
17Cleveland Institute of MusicIL
18University of Texas-AustinTX
19Arizona State UniversityAZ
20Mannes College of MusicNY
21Rice UniversityTX
22University of Colorado-BoulderCO
23University of Wisconsin-MadisonWI
24Ohio State UniversityOH
25University of Hartford (Hartt)CT
26San Francisco Conservatory of MusicCA
27SUNY-Stony BrookNY
28University of KansasKS
29University of MiamiFL
30Boston UniversityMA

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Piano com 2 teclados

Este sim, já faz algum sentido, não?

La Campanella em dois pianos

Engraçado, não é?
Mas eu só faço uma pergunta: porquê?